VOLTA ÀS AULAS – Como ajudar seu filho a retomar as atividades de maneira tranquila
É hora de ir à escola, fazer a tarefa de casa, e, claro, dormir mais cedo. Especialistas e mães compartilham alguns truques de sucesso.
Acabaram as férias, e é preciso recomeçar o dia a dia. Dá uma peninha fazer a garotada “pegar no tranco” depois de ver os pequenos tão à vontade e se divertindo à beça, não é? Mas é necessário retomar a “vida real” e ajudar seu filho a se readaptar nesse período. “Rotina é fundamental para a criança aprender a se organizar durante o dia e a semana, e isso a deixa mais tranquila. Do contrário, fica insegura e ansiosa por não saber o que vai acontecer”, explica Ricardo Halpern, presidente do Departamento de Comportamento e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Na volta às aulas, a rotina se torna ainda mais importante. Afinal, o ritmo fica bem diferente. Saem de cena praia, passeio de bicicleta, casa dos amigos e flexibilidade no horário de dormir; e entram acordar cedo, aulas, atividades extracurriculares e a diminuição do tempo de lazer.
Para facilitar o processo de adaptação, os especialistas recomendam que o preparo para a volta às aulas comece alguns dias antes do dia D. Uma motivação pode estar na organização do material escolar e no contato com os amigos com quais a criança não se encontrou durante as férias. Para Marina Breithaupt, autora do blog Petit Ninos e mãe da Barbara, 13 anos, e do Theodoro, 5, é preciso voltar ao normal para não se instalar o caos. “Uma semana antes do início das aulas já começamos o processo de dormir mais cedo aqui em casa, e de pular da cama meia hora antes a cada dia também. É simples e funciona para acertar os ponteiros com os horários pós-férias”, diz ela.
Cisele Ortiz, especialista em educação infantil e coordenadora do Instituto Avisa Lá, de formação continuada de educadores, sugere elaborar quadros nos quais seu filho possa ver facilmente os compromissos. Vale usar fotos ou mesmo desenhos de diferentes momentos do dia para ilustrar cada ação combinada entre os pais e as crianças. “Essa é uma forma de dar mais segurança a elas. Além disso, a agenda ajuda a mostrar como é importante cumprir os combinados e os horários”, orienta Cisele.
Faz parte
Renata Favrin, psicóloga da rede M de Mãe, de São Paulo, tranquiliza os pais explicando que a volta às aulas não deve ser traumática, pois é um retorno a um processo já iniciado, diferente do começo da escolarização. “De qualquer forma, é fundamental conversar com seu filho e deixar claro que as férias são uma pausa e que têm duração estipulada pelo calendário escolar. Sendo assim, há início e fim”, diz. Os preparativos podem começar na última semana das férias. Quanto mais envolvida a criança estiver no processo, mais fácil será.
As atividades em casa devem seguir um cronograma que ajude o pequeno a conviver com compromissos. “Introduza, em horário fixo, no dia a dia, uns 20 minutos de atividade intelectual e motora. Um desenho ou pintura em conjunto, por exemplo, feitos em dias diferentes e razoavelmente na mesma hora, ou ainda a leitura empolgante de um conto infantil são boas pedidas”, orienta Rafael Alvarenga, psicólogo e autor do livro Meu Primeiro Dia de Aula. Os pais também devem valorizar o ato de arrumar o novo material. “Curta com as crianças o momento de apontar o lápis e organizar o estojo, e de etiquetar os livros e preparar a mochila. Aproveite para lembrar que os amigos as estarão esperando na escola, cheios de novidades”, ensina Lala Cerri, do blog We Love Cherry, mãe de Bella, 3 anos, e Nina, de 1.
Reduzir o tempo de TV, computador e outros eletrônicos é igualmente importante. Rafael alerta que esses aparelhos devem ser utilizados, nessa semana de transição, com mais moderação. Cisele vai além e reforça que os pais não devem deixar os pequenos assistirem à TV ou usar tablet ou celular depois do jantar. “Muitas pesquisas revelam que as telas prejudicam o sono.”
Cardápio saudável
Liberou geral nas férias e a turminha caiu de boca nas guloseimas? Para fazer as crianças voltarem à rotina alimentar é preciso ir com calma. Segundo Angelina Zapponi, nutricionista da clínica AZ Nutri e membro da Sociedade Brasileira de Nutrição Funcional, o ideal é realizar as mudanças de maneira sutil. “Interrupções bruscas nunca são bem-vindas, pois predispõem as crianças a terem uma maior resistência. Substituições pequenas e graduais de pratos e sobremesas por versões mais saudáveis podem auxiliar muito nesse processo. Arroz ou quinoa coloridos, filé de frango crocante empanado com gergelim ou amaranto ao forno, um legume gratinado e um sorvete caseiro de banana com frutas vermelhas podem ficar mais convidativos do que as comidas convencionais do dia a dia”, ensina ela. E não ficam devendo no quesito “gostosura” que frequentou a mesa nas férias.
Mônica Brandão, autora do site Comer para Crescer e mãe de Isabella, 9 anos, e Úrsula, 6, aproveita a volta às aulas para “dar uma geral” na alimentação. “Dá preguiça, mas se quisermos que a criança volte a ter uma rotina alimentar saudável, também precisamos nos esforçar. Isso significa fazer cardápios e compras pensando no cotidiano escolar. Pelo menos para o primeiro mês, para que a improvisação não vire bagunça e descontrole”, ensina. Envolver a criançada na elaboração do menu também ajuda. “Elas se sentem parte importante da família e acabam firmando um compromisso de que vão comer o que estará sendo preparado, sem cara feia.”
E anote aí outra dica valiosa de Mônica: “Enquanto todo mundo está se acostumando com a rotina, não dá para fazer refeições correndo, de pé, ao lado da mesa ou já dentro do carro. Eu tento me organizar para que minhas filhas comam com tranquilidade. E, ao final do dia, volto a incluir uma ceia leve antes de dormir – leite com bolacha, por exemplo -, para que elas não durmam com fome. Isso garante uma boa noite de sono e um acordar mais tranquilo”. Mônica conta que, ainda na fase de adaptação à nova realidade, já passa responsabilidades de novas funções às crianças. “Peço que coloquem os pratos na mesa, arrumem os talheres… Assim, as crianças também participam mais ativamente das refeições e, ao voltarem às aulas, ficam com a sensação de que cresceram”, recomenda.
Saudades de casa e dos pais
Depois de muitos dias juntos nas férias, seu filho pode sentir falta de estar perto de você. A psicóloga Erica Aidar, de São Paulo, recomenda que os pais procurem pegar os filhos na escola pontualmente, para amenizar a saudade. “Isso dá segurança aos pequenos, pois demonstra que você também está ansiosa por reencontrá-lo ao final do dia. Depois de dois ou três dias, eles vão até pedir para você ir buscá-los um pouquinho mais tarde, para dar tempo de brincar na saída da escola”, observa ela. Outra dica da especialista é a de os pais prepararem um bilhetinho ou um desenho (caso seu filho ainda não leia) e colocar na lancheira. Ele vai se sentir lembrado e especial quando abrir o lanchinho. “Vale também incluir alguma guloseima ou alimento que tenha marcado as férias.”
Uma estratégia adotada por Nívea Salgado, do blog Dicas de Mãe, é planejar o fim das férias de sua filha Catarina, 4 anos, com atividades divertidas que envolvam outras pessoas. Vale ir ao cinema com a avó ou passar um período em locais que ofereçam entretenimento para sua faixa etária. “Dessa forma, ela vai se acostumando a não me ver por perto 24 horas por dia”, ensina. Chamar uma amiguinha da escola para brincar em casa também funciona muito bem. “O vínculo é restabelecido, e Catarina fica com mais vontade de voltar às aulas”, conta Nívea.
Dentro dos trilhos
- Planeje metas com a criança para cumprir antes de as férias acabarem, como ter a estante de cadernos e livros liberada de coisas velhas e fora de uso.
- Não comprometa 100% da agenda dos pequenos. Eles precisam ter tempo livre para brincar ou simplesmente não fazer nada.
- Capriche na lancheira saudável. Uma fruta, um carboidrato e uma proteína são o trio perfeito.
- Faça combinados com a criança. Avise-a dos horários e sempre informe o que vai acontecer antes e depois de alguma tarefa ou atividade, mesmo que ela não entenda perfeitamente.
- Mantenha calendários que seu filho possa manusear e onde possa marcar acontecimentos importantes, como aniversários, passeios da escola e provas.
Fonte: educarparacrescer.com.br